sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O significado de, respirar...

Decidi partilhar "Anjos Salgados" porque, transcreve na íntegra tudo o que sinto...

"Capítulo I – Anjos Salgados

Todas as lágrimas são salgadas. Mas as nossas são mais. Beijar uma das nossas lágrimas, é como sentir os salpicos salgados da água do mar, quando uma onda rebenta mesmo aos nossos pés. 
Não somos filhos do mar, mas temos um não-sei-quê de vento salgado que nos roça a pele, o suor e os lábios, como no fim de um dia de praia. 
Não somos heróis, mas lutamos cada dia com uma espada de dois gumes; ou somos suficientemente fortes para a equilibrar entre nós e o inimigo, ou acabamos por deixar que seja o inimigo a usá-la contra nós. Talvez sejamos heróis, mas nós não entendemos isso assim. Nunca nos vemos como heróis, nem recebemos medalhas por lutarmos todos os dias, sem excepção; para nós, é a nossa forma de viver e por vezes, de sobreviver: a lutar. Talvez mais do que aqueles que lutam com armas de fogo, mas que são incapazes de saborear um sorriso, um pequeno gesto ou uma réstia de céu; talvez mais do que todos eles, nós temos a capacidade de distinguir o brilho ou a esperança nas mais pequenas coisas que a vida nos oferece.
Não somos diferentes. Quer dizer, não somos iguais aos outros, mas acabamos por ser especiais na nossa diferença: tornamo-nos muito mais humanos. Nós e aqueles cuja vida foi tocada pela nossa existência. E pela luta árdua e constante, contra essa parede intransponível, fria, brutal e desumana.
Mesmo que não existam anjos, é assim que somos vistos, quando nos encolhemos sobre nós mesmos, com os braços fininhos a formar umas asas e quando a palidez contorna todos os traços que nos compõem. Aí, nessa altura, somos anjos… apenas a tentar respirar. Grande parte da humanidade respira sem pensar; nós, só pensamos em respirar.
Apesar de tudo, os heróis, por vezes, também se despedaçam. E aos anjos, por vezes, também se lhes quebram as asas. Não deveria ser assim. Não nos deveríamos fragmentar assim, depois das lutas intensas e de todo o esforço árduo para sobreviver. E de termos tocado, com a nossa presença, algumas centenas de vidas. "
(Filipa João)


Obrigada Filipa por partilhares estas sábias palavras....como compreendo.


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